sexta-feira, 23 de setembro de 2011

MADRUGADA

A mesa estava abarrotada de coisas.
Havia papel colado nas bordas com anotações diversas, agendas empilhadas, canetas dentro de um recipiente circular prateado e uma prancheta com um papel branco preso pela presilha.
Eu olhava a folha compenetrado, me perdendo em sua brancura. Porém, nada me vinha à cabeça.
O relógio marcava 03:00 da manhã no display. Com isso, me dei conta de que já estava naquela empreitada a mais de cinco horas. Aquele tempo todo e nenhum progresso. Sacudi a cabeça espantando o sono que queria começar a disputar espaço em minha mente, forçando minhas pálpebras, convidando-as a se fechar.
Descruzei os braços, peguei a lapiseira que estava entre as canetas e foquei novamente no papel. Estava decidido: ia conseguir pelo menos um esboço. Um rabisco qualquer que me ajudasse a não ter perdido aquelas cinco horas em vão.
Dei uma boa olhada no cômodo onde estava.
A minha direita, a cama se mostrava solitária, me convidando a fazer-lhe companhia. Ao fundo, minha estante com meus livros e quadrinhos. Havia muitos títulos. Todos bem distribuídos e organizados. À esquerda, meu guarda-roupa ocupava oitenta por cento da parede branca do quarto, deixando apenas um espaço para a janela, que dava para a rua. Um adesivo dos X-men decorava a porta do meio do guarda-roupa, entre as outras duas que possuíam um espelho.
Voltei novamente a olhar para a folha em branco sobre a mesa. Agora eu sabia o que ia esboçar. Mas quando me inclinei a fazê-lo, o telefone tocou. Por um instante fiquei furioso. Justo na hora em que consigo inspiração o telefone tinha que dar sinal de vida? Mas tudo bem. Após o terceiro toque eu atendi.
- Alô! – eu disse.
- Serei breve. – disse a voz do outro lado. E eu fiquei meio perdido com a informação. O que aquilo queria dizer? Mas antes que eu dissesse algo, a pessoa do outro lado da linha continuou. – Você corre perigo. Saia daí, agora! – depois disso o telefone ficou mudo.
Seria isso um trote? Não sei. Mas por algum motivo eu senti um frio percorrer a minha espinha e, de repente, o silêncio do quarto tornou-se sufocante. Até o ar ficou abafado sem a menor explicação.
Olhei agitado de um lado a outro e gelei quando ouvi um barulho que parecia vir do corredor, do outro lado da porta do meu quarto. Pareciam passos e eram pesados. Pois a madeira do chão rangia anunciando a aproximação de quem quer que fosse.
Eu não sabia o que fazer. Pelo visto, não havia sido um trote. Mas quem poderia ser? E o que queria com um pobre designer free-lance?
...

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