domingo, 2 de outubro de 2011

DECEPÇÃO

- Boa tarde senhor! Poderia chamar a Lia para mim? – disse o garoto.
- E você, é? – perguntou o homem uniformizado.
- Andino! Diga a ela que é o Andino. – respondeu o garoto.
O homem balançou a cabeça em sinal positivo e saiu. Eu fiquei ali no portão esperando. O coração acelerado, as mãos tremendo e a ansiedade me sufocando. Nem sei como havia conseguido manter a calma perto do porteiro. Esperei por apenas 5 minutos. Mas pareceu uma eternidade.
Assim que o porteiro voltou, já chegou balançando a cabeça negativamente.
- Sinto muito rapaz, ela está em aula e não pode sair. – ele disse.
Eu baixei a cabeça, desolado.
- Mas ela perguntou se você poderia esperar até a hora do intervalo. – o porteiro acrescentou.
Eu levantei a cabeça, com um sorriso tímido no rosto, e fiz sinal afirmativo.
- Então, é só esperar ali, oh! – o porteiro disse, abrindo o portão e me indicando uns bancos no pátio, que ficavam a direita da entrada.
- Obrigado senhor! – eu disse, enquanto me dirigia para a direção indicada.
Fiquei aguardando nos bancos. O tempo parecia não passar. Eu olhava ansioso de um lado a outro, mãos tremendo e o coração a mil. Mesmo com as mãos tremulas, eu não soltava a rosa que trazia comigo e tão pouco o bilhete. Era por causa disso que eu estava ali, esperando a Lia. E enquanto me perdi em pensamentos a lembrar do sorriso dela, fui tragado de volta para a realidade pelo barulho do sinal, que provavelmente anunciava o intervalo.
À vi saindo do corredor. Levantei ansioso.
E agora, o que iria dizer? Havia esperado tanto por esse momento. Quando dei por mim de novo, ela já estava parada a minha frente, com seu sorriso a me oferecer.
- Oi, Andino! – ela me cumprimentou.
Por segundos que pareceram horas, fiquei sem fala. Fui tomado pelo nervosismo e as palavras simplesmente fugiam da minha língua, me deixando sem a menor reação. Mas eu respirei fundo e consegui falar.
- Oi, Lia! – e ainda sem jeito, consegui esboçar um sorriso.
- O porteiro havia dito que você queria falar comigo. Em que posso ajudá-lo? – ela disse com a voz quase inaudível e aquele jeitinho meigo dela.
- É... – eu comecei meio sem jeito, escondendo a rosa entre as mãos, posicionando-as nas minhas costas. – não vim pedir ajuda. Eu vim falar algo muito importante com você. Pelo menos para mim.
Ela inclinou levemente a cabeça, como uma criança curiosa, provavelmente tentando entender as minhas intenções. Mas continuou calada.
- Vim lhe trazer isto! – eu estendi a rosa e o bilheta a minha frente.
Lia corou na hora. Suas bochechas ficaram rosadas, como sempre acontecia quando ela ficava sem jeito.
- São para mim? – ela perguntou, ainda incrédula.
- Sim! – disse.
Ela pegou a rosa e o bilhete, as bochechas ainda rosadas, demonstrando seu desconcerto. Em silêncio, ela leu o bilhete. Eu não havia escrito muito coisa, por isso, logo ela ergueu a cabeça me direcionando um olhar ainda mais desconcertado.
Pronto, estava feito. Agora ela sabia de tudo. Meu coração gelou. O que ela iria dizer? Era a pergunta que martelava em minha mente. Mas agora não tinha mais volta.
- Andino, é muito bonito o que você escreveu. – ela disse, quebrando o silêncio. – Mas... – ela hesitou. Os olhos demonstrando ainda certo desconcerto – me desculpe. Somos apenas amigos.
Meu coração ficou em cacos naquela hora. E provavelmente isso estava transparente em meu rosto, porque, ela tocou de leve minhas mãos e tocou meu rosto, colocando nossos olhos um de frente para o outro.
- Não fique assim. Gostei muito de todas as cartas que você mandou. Nunca imaginaria que era você. – ela disse, e aquilo me alegrou por um instante. Mas ela continuou. – Mas te vejo apenas como amigo. Você é um doce de pessoa, gentil, atencioso, carinhoso, inteligente, esforçado, mas... somos apenas amigos. – ela disse, com um sorriso sincero, meio tímido.
- Tudo bem. - Eu sorri de volta. Não fui exatamente sincero, mas não podia fazer mais nada. Havia perdido meu chão e meus sentimentos estavam em pedaços. Caquinhos bem miúdos, que levariam um século para serem juntados novamente.
- Pode deixar, não vou mais importuná-la com isso. – eu disse, ainda sustentando o sorriso, falso, no rosto.
Aproximei-me dela, dei-lhe um beijo na testa e me afastei novamente.
- Acho que é tchau, então, né? – eu disse.
O Sinal do fim do intervalo soou e foi à afirmação da nossa despedida. Não esperei que ela dissesse mais nada. Virei e fui em direção ao portão. Caminhei sem olhar para trás. Só depois de já estar a uma boa distância do cursinho onde ela estudava, eu parei. E só então, eu levei minha mão ao meu rosto, enxugando a lagrima que havia tomado coragem para sair e escorregava lentamente pelas minhas bochechas.

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