sábado, 1 de outubro de 2011

PAIS E FILHOS - Silêncio

O garoto caminhava lentamente. Não havia pressa nem mesmo em sua expressão. Seu destino não parecia ser o que ele queria. Mas ele sabia que, de alguma forma, teria que chegar. Era um menino magricela, mas não abaixo do peso. A cabeça era emoldurada por cabelos negros, cortados a máquina. Um garoto comum, porém, diferente pela dor que carregava no coração. A blusa da escola estava suja em várias partes, o cadarço do pé esquerdo do quichute estava desamarrado e ele trazia a mochila pendurada em uma das mãos.
Não havia sorriso em seu rosto.
Ele parou diante de um muro marrom com um portão de madeira. Por detrás deles, uma casa de dois andares se erguia. O menino retirou do pescoço um cordão que trazia três chaves. Escolheu uma delas e encaixou no portão. A tranca destravou com dois cliques. O garoto passou pelo portão e subiu as escadas que levavam ao segundo andar da casa. Ali, havia apenas uma grande varanda e duas portas, que eram os únicos cômodos daquela parte da casa. O garoto parou, suspirou fundo, e olhou ao redor. A paisagem que se estendia era a de várias casas humildes. A única coisa que quebrava a continuidade da visão era a grande igreja que se erguia praticamente a frente de sua casa. Mas nada daquilo o importava. Ele sacudiu a cabeça e enfiou a chave na porta da sua esquerda. Novamente dois cliques e, a passagem estava liberada.
Era um cômodo pequeno, provavelmente seis metros quadrados. Não havia luxo ali. As únicas coisas que preenchiam o espaço eram: uma cama de madeira polida ao fundo, um guarda-roupa na parede da direita, uma mesa com um computador ao lado da janela na parede da esquerda, uma estante com alguns livros, ao lado da porta, e um giro visor sustentando uma TV de 14” logo acima dela. O menino largou a mochila na cadeira e se jogou na cama, com um desanimo estampado no rosto. O mesmo que parecia ter lhe acompanhado o caminho inteiro. De forma despreocupada, ele levou a mão à boca, tocando o pequeno corte no canto dos lábios.
- Por que todos me odeiam? – ele falou consigo mesmo.
Virou de lado na cama, postando-se de frente para a parede, que era o fundo do quarto. Pareceu não se sentir a vontade com a posição, e se mexeu novamente, ficando de bruços e enfiando a cara no travesseiro. Mas sua tentativa de “fuga” foi interrompida quando alguém bateu a porta.
- Posso entrar? – perguntou uma voz de mulher.
O garoto se virou novamente e dessa vez ficou de barriga para cima, olhando para o teto. Seus olhos estavam vermelhos, o rosto marcado próximo aos olhos e o travesseiro mostrava sinal de umidade. Depois de um tempo ele respondeu.
- Sim. Pode entrar mãe.
A porta abriu praticamente sem nenhum barulho. A senhora olhou para o menino deitado na cama e, hesitante, se aproximou. Retirou a mochila de cima da cadeira e a colocou pendurada no encosto da mesma e se sentou.
O garoto ainda permanecia em silêncio.
Ainda demonstrando hesitação, a senhora fez um gesto para tocar o menino, mas parou a poucos centímetros da testa dele. Porém, não se deteve ali, completou o gesto e alisou delicadamente a testa do filho. Que silenciosamente deixou uma lágrima escorrer pelo canto do olho. Mas permaneceu imóvel e não disse nenhuma palavra. A mãe observou o menino, reparando a ferida no canto da boca, a blusa suja de poeira e um pouco de sangue e, o olhar triste e profundo no rosto do filho.
- Quer conversar? – ela perguntou. A voz triste, provavelmente pelo estado em que o filho se encontrava.
O garoto continuou sem dizer nada. Mas levantou da cama calmamente e ficou sentado. Sua mãe também não disse mais nada, apenas esperou. Sustentando um olhar calmo e terno para ele. Observando os olhos vermelhos do filho.
Do nada, o menino enlaçou a mãe pela cintura e se entregou as lágrimas que ainda lutavam para sair.
A mãe apenas pousou os braços sobre o menino, acolhendo-o com seu calor. E eles ficaram em silêncio, juntos. Não havia uma só palavra a ser dita. O menino era assim: fechado. Falava mais com o corpo do que com palavras.

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